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O Prostituto de Universidades: conheça a história de Marcelo Leitão e suas candidaturas a pós-graduação no exterior

23/05/2014 por Fernanda Cruz Rios-Ford, Ph.D.

Ele se inscreveu para dois mestrados, um doutorado e um mestrado profissional, em três países diferentes, em quatro universidades, de uma só vez. Ganhou o apelido peculiar de Prostituto de Universidades e quase foi acusado de vender a alma ao Diabo. Quer saber no que deu? Com vocês, Marcelo Leitão, o arquiteto cearense que gosta de viver fortes emoções!

Desde o começo da minha graduação eu já tinha uma certeza: “eu quero estudar fora!“… Mas como eu conseguiria isso? Essa era a grande pergunta! Um dia eu parei e percebi que conhecia várias pessoas bem mais capacitadas do que eu, com um currículo e desempenho exemplar, mas pela falta de um simples quesito, a proficiência em uma língua estrangeira, não tinham nem chances de ao menos de participar de um processo seletivo. Logo, desde o inicio da minha graduação eu busquei aprender o máximo possível, pois cada língua é um leque de oportunidades que se abre na sua vida!

Marcelo em Wisconsin, nos EUA, durante seu intercâmbio!

Após finalizar a minha graduação e ainda com foco nesse objetivo, tomei uma decisão difícil e fui contra todos os “bons conselhos”: larguei tudo no Brasil e fui para o exterior em busca de proficiência em alguma língua. Um ano depois, Maio de 2013, retorno ao Brasil, mas com planos de aplicar apenas no ano seguinte (em 2014 para ir no ano de 2015). Senti que ainda não estava pronto, que precisava pesquisar mais sobre o assunto, ganhar experiência e outras coisas… Até receber a ligação de um professor da faculdade.

Marcelo, tudo bem? Faz dois meses que estou tentando falar com você e não consigo. Precisamos resolver a sua pós-graduação!

Falou o meu professor.

Confesso que naquele momento eu me animei bastante!, Mas logo em seguida bateu o medo e o sentimento “não estou preparado”. Conversei mais um pouco com o meu professor e acabei seguindo o seu conselho:

Você já tem toda a documentação? Tente, pois na pior das hipóteses, você ganhará pelo menos a experiência.

E assim eu o fiz. Quase nos 45 minutos do segundo tempo (Agosto/2013) eu resolvi tentar, e se era para tentar, que fosse para valer a pena. Apliquei para 4 bolsas de estudos e a partir daquele momento eu estava mais conhecido entre meus amigos como “prostituto de universidade”: a que pagasse, eu iria! As bolsas foram:

Foi um processo longo e bem estressante. Administrar uma candidatura de bolsa de estudos é difícil, imagina quatro? Devo ter sofrido alguns pequenos infartos no processo, mas sobrevivi e agora é só felicidade! (ops, spoiler). Todos os processos foram simultâneos, mas para facilitar, o processo, contarei em tópicos individuais

PhD nos Estados Unidos pelo Ciências sem Fronteiras Capes/Laspau

Esta bolsa era (o que eu achava ser) o meu sonho. Foi o processo mais longo, caro e estressante, mas certamente o que me deu experiência para obter sucesso nos outros. As principais dificuldades no inicio foram a falta de informação e o tempo curto para finalizar tudo. Eu tinha menos de 1 mês para juntar toda a papelada, traduzir documentos, escrever plano de estudos e descobrir o que era o GRE, mas graças a ajuda de alguns santos (dentre eles estão alguns dos integrantes da equipe Abroaders) eu consegui enviar tudo a tempo.

Algo que me desmotivou bastante no início do processo foi a pequena quantidade de universidades que eu poderia me candidatar. Essa restrição se deu basicamente por três motivos: o meu tema é bem específico e poucas universidades oferecem pós-graduação nessa área, Building Science, focando em Sustentabilidade e Eficiência Energética em Arquitetura; eu não possuo título de mestre e boa parte dessas universidades pedia mestrado para ingressar no doutorado; e a minha pontuação do TOEFL era de 92 pontos (22/24/22/24), e boa parte das universidades que ofertam pós na minha área pediam 100 pontos. Quando me deparei com todas essas questões, percebi que o sonho não seria tão fácil quanto eu imaginava, mas essa não era hora para desistir e eu precisava fechar meu submission plan.Nadar para morrer na praia não é o meu lema!

No final das contas, o meu submission plan acabou ficando com apenas três universidades. Eu queria ter aplicado para Berkeley e Virginia Tech, apenas! Mas como eu havia entendido que precisava tentar pelo menos três, acabei adicionando Texas A&M, mesmo não sendo bem na minha área.

Um dia, estou no trabalho e recebo um e-mail muito gentil de Berkeley avisando que, infelizmente, eles não poderiam me oferecer uma vaga, que eu não ficasse triste, que o problema não era eu, mas o alto nível da concorrência. Eu, por desencargo de consciência, entrei no site do GradCafe e fui conferir o nível da pessoa que tinha sido aceita. Ela apresentava pelo menos (estratosféricos) 90% em cada quesito do GRE… acho que realmente ela merecia! hahaha

Algumas semanas depois eu recebi a carta de concessão da bolsa! Foi um alívio muito grande, pois pelo curtíssimo tempo que tive para montar o plano de estudos, não achei que seria concedida. Isso me fez acreditar que talvez o sonho ainda fosse possível. Ainda naquela semana, recebi o “não” de Virginia Tech, algo já esperado, pois eles aceitam de 1 a 2 estudantes de PhD na minha área por ano.

E para finalizar, fui aceito na Texas A&M! Mas, em meio a toda essa supressa, só me restavam dúvidas: Estou preparado para um Doutorado direto da graduação? Texas A&M não tem foco na minha área, vale a pena? Onde eu fui arrumar esse sonho?

No final das contas, acabei negando a oferta e abri mão da bolsa de Doutorado direto. O PhD é uma coisa muito séria, que exige muita dedicação e não valeria a pena fazer “de qualquer jeito”. Foi uma decisão bem difícil, pois até aquele momento eu não tinha nenhuma garantia de outra bolsa ou aceite de universidade, mas era o mais certo a ser feito.

A grande lição de tudo isso foi que sim, é possível conseguir a tal “lenda do doutorado sem mestrado”, mas nem sempre isso será o melhor para você! E como conselho, mesmo sem ter certeza do que você quer, tente e depois que você tiver o aceite você decide.

Mestrado em Arquitetura na Alemanha pelo DAAD

Quando eu me candidatei a essa bolsa eu estava me achando, crente que ia conseguir! Tinha tudo para dar certo, pois ela era exclusiva para arquitetura, e muitas pessoas por acreditarem que precisa falar alemão, deixam de tentar, reduzindo ainda mais a concorrência. O processo foi bem simples e de fase única. Mandei um pacote de 3kg de papel pro DAAD no Rio de Janeiro, que seria reencaminhado para Colônia, na Alemanha.. depois disso era só sentar e esperar. Até que um dia recebi uma ligação da minha mãe:

Filho, chegou aqui uma carta de um tal de DAAD para você..

Mãe, isso é a resposta da minha bolsa! O pior é que não adianta nem eu pedir para abrir, pois a senhora não entenderá nada…

Momentos de tensão até eu chegar em casa e ler um educado “Nein, nein, nein!”

Moral da história: Sabe de nada, inocente!

PS.: Foram 341 candidatos do mundo todo e 37 selecionados.

Marcelo, na Alemanha. Existem muitos muros a desconstruir, diz a frase no muro (segundo ele, é claro, eu não falo alemão! rs)

Mestrado na Inglaterra pelo Consulado Britânico (Bolsa Chevening)

Eu fiquei sabendo dessa bolsa de estudos bem em cima do deadline, algo como um pouco mais de uma semana antes, mas como o processo é todo on-line, bem simples e eu já tinha toda a documentação, por que não tentar? Estudar na Bartlet School - University College of London era um sonho e eu jamais pensei que teria essa oportunidade um dia. A bolsa é extremamente concorrida, algo como 28 mil candidaturas no mundo inteiro, aproximadamente 3 mil só no Brasil. Comparando com a bolsa da do DAAD, só um milagre para eu conseguir!

Novamente, tive uma surpresa, mas desta vez foi boa! O consulado britânico quase me matou do coração, pois enviou um e-mail 7hrs da manhã me parabenizando, mas apenas 30 minutos depois um outro e-mail pedindo para desconsiderar o e-mail anterior. Fiquei horas sem respostas e sem saber se aquilo era uma pegadinha… tentei contato com os responsáveis, mas me foi dito que eles estavam tendo dificuldades em gerenciar as informações, que eu deveria esperar e seguir pensando positivamente. No final de um longo dia, chega um terceiro e-mail convocando novamente para a entrevista! Neste momento, mesmo sabendo que nada era certo ainda, foi só alegria, pois um milagre tinha acontecido: destes quase 3 mil candidatos, aproximadamente 100 pessoas haviam sido selecionadas para a segunda e última fase… e eu era um deles!

Segui para a segunda fase, fui para uma entrevista em Recife, consegui o aceite da UCL e estou esperando a resposta final, que deverá sair no final de maio, começo de junho. Moral da história: A vida me deu uma lição muito grande, mostrando que nem sempre o que é seguro (a bolsa do DAAD) é certo, e nem sempre o que é “impossível” é inalcançável. E a única forma de descobrir isso é tentando.. por isso: TENTE!

Na próxima semana, o Marcelo disponibilizará para os integrantes do #teamAbroaders (vocês, rs) a sua Statement of Purpose e a Personal History, documentos que teve que redigir para as suas candidaturas! Teremos um post sobre SoP com vídeo e exemplos para baixar. Não percam!

Mestrado Profissional nos Estados Unidos pelo Ciências Sem Fronteiras Capes/IIE

Depois de todos os processos seletivos, este que eu julgava ser meu coringa, acabou sendo meu “Ás”! A bolsa de estudos foi ofertada nas últimas e claro, eu já tinha toda a documentação. Eu passava nos requisitos mínimos por pouco, mas passava! Fiz toda a burocracia e depois de alguns meses, lá estava meu nome na lista. Para ter um pouco de emoção, a lista foi revisada e algumas pessoas saíram dela, mas meu coração já estava acostumado e meu nome seguia na segunda lista. O que dificultou foi o atraso no processo e com isso, pouquíssimas universidades ainda estavam aceitando candidaturas.

Como um bom bom brasileiro e que não desiste nunca, escolhi três universidades que ainda estavam abertas e mandei e-mail chorando para Berkeley e VirginiaTech. Berkeley negou de cara, estava com o mestrado lotado. VirginiaTech disse que eu poderia pedir revisão, mas que aconselhava que eu aplicasse para outro centro, pois como eu já havia sido negado uma vez, facilmente eu seria negado uma segunda. Mas eu segui sendo brasileiro e insisti: “Não, eu desejo aplicar para o mesmo centro!”

Certo dia, estou no fazendo compras no mercado e recebo um e-mail da VirginiaTech oferecendo ajuda para alugar apartamentos. Naquele momento eu perguntei: “Tu tá de brincation with me né VT? Já não sabes o que sofri e me mandas este tipo de coisa!” Larguei tudo e voltei para casa correndo, entrei no site da faculdade e lá estava! VOCÊ FOI ACEITO PARA O PROGRAMA DE MESTRADO!

Agora estou no meio das burocracias de visto, aluguel de apartamento, busca de roommates etc.. mas isso não é nada frente ao resto do processo, pois o sentimento que tenho é só alegria! Pedi muito que a vida me desse a chance de realmente escolher para onde eu queria ir, e eis que me foi concedido! Estou indo muito feliz de ir para VT e já abri mão da UCL (a de Londres). Talvez alguem se pergunte, mas como assim? Pensei em tudo e no final das contas vi que a VT é melhor para mim, mesmo a UCL sendo uma das melhores na minha área.

Como fechamento, realmente os processos são bem cansativos. Muitas vezes acreditei que era mais uma prova de resistência do que qualquer outra coisa, mas o sentimento de realização é indescritível. O único conselho que eu posso dar é: tente e se surpreenda!

Em um próximo post, compartilharei com vocês a experiência pós aceite e um pouco da vida por lá! Obrigado! ;)